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domingo, 21 de fevereiro de 2010

A Lua, São Jorge e o dragão


Não andavam de mãos dadas, São Jorge e a lua.
Mesmo tendo o mais puro dos sentimentos eram tidos, pelo mundo, como amantes. Não poderiam ser vistos nas ruas.
Pensava ele...Tolos mortais do sentimento, imersos em suas poesias irreais.
Seu cotidiano lamento só lhes permite pular, voar jamais.
Olhar para chama de uma vela e não perceber o seu efeito é como apontar para uma estrela e distraído, ater-se apenas ao dedo.
Perguntou aos escritores do amor, qual entre eles nunca amou em segredo?
Qual que amando assim, ao invés de apenas enveredar pela poesia, lutou por sua conquista sem se esconder no seu medo?
Talvez os astrônomos sejam os estudiosos mais gabaritados no entendimento do amor, enquanto houver tantos astros a serem descobertos não perderiam seu tempo focando imensos telescópicos em seus umbigos em dor.
Dizem que o mal do mundo é o ódio que impede um ser de amar de verdade.
O ódio é apenas o ócio do coração que se nega a sorrir por medo da menor possibilidade de felicidade.
Noite dessas de lua cheia, quando não se ouve nem uivos de cão, pôde-se ver nitidamente São Jorge largando sua espada sem temer o dragão.
Sob a luz de uma fogueira solar falar de amor para lua percebendo que da boca da fera o fogo que saia era bom.
Não se ateve a pena e papel, não se pôs a chorar em lamento.
Escreveu, com seus beijos, seu amor nas estrelas e teve do amor da lua seu merecimento.
Hoje, enquanto lindos poemas alimentam apaixonados solitários e são recolocados em suas estantes, o amor de São Jorge pela lua brilha escancaradamente nas estrelas inspirando novos amantes.


Ayahuasca

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Boca aberta


O descaso só me incomoda quando vem acompanhado de exigências.
Que nossa unha encravada doa mais que a fratura exposta do outro já passei a achar normal em todos nós, guardadas as devidas proporções.
Mas, achar que o outro tem que juntar seus ossos, engolir a dor para assim vir ao nosso auxilio, ainda é coisa que me espanta.
Coisas pequenas me dão muita alegria, porem confesso que coisas ainda menores chegam a me incomodar numa proporção muito maior.
Falar ao invés de calar, eu sei que me torna uma pessoa irritante e sentindo isso comecei a deixar de lado as coisinhas chatas que acontecem com as pessoas menos importantes. Relevar picuinhas com pessoas que a mim não fazem tanta diferença.
Isto pode parecer uma tremenda evolução, só que continuei chato com as pessoas que amo e me importo.
Confesso que isso não é nada agradável.
Onde fica a linha tênue do equilíbrio entre o calar ou falar quando sabemos que de nada adiantaria?
Se não vou mudar a situação, deveria calar-me?
Ou seria bom que, se não posso mudar algo que pelo menos soubessem que não gosto daquilo? As vezes penso que ajo errado, mas por outras penso que a letra do Rappa tem tudo a ver quando diz: “paz sem voz não é paz, é medo”.
Por vezes isso tudo me parece doença. Uma coisinha pequena incomodar feito um dente que não esta doente, mas cismou em ficar sem motivo numa dorzinha chata.
Não dizer o que sinto é como se eu não curtisse tratamento de canal.
Então vou aturando, aturando... Até que da a louca e a dorzinha besta torna-se insuportável, ainda que besta.
Ai chego no dentista mostro o dente que ta incomodando e antes que ele sugira o tratamento digo:
-Pode arrancar.
Ele questiona como pode isso se não precisaria a perda do dente pra resolver a coisa.
E de tanto ter aturado a tal dorzinha imagino que o tratamento simples não adiantaria e ela voltaria com certeza. Também a esta altura já nem to mais ligando pra aquele dente, então educadamente digo:
-O DENTE É MEU KCT. ARRANCA. TO PAGANDO.
Sei que por estas e outras, buscando este equilíbrio, perdi muitos dentes. Restaram apenas aqueles que não prejudicam o meu sorriso.Meu receio é pensar que a liberdade que me concedo de falar, e que me da o antídoto contra aquela dorzinha para os meu dentes da frente, crie neles alguma bactéria que os faça pular por conta própria de minha boca nos, não raros momentos, em que eu não consigo mante-la fechada. Deixando em minha grande boca aberta uma linda janela para que assim eu possa, tranqüilo e satisfeito, gargalhar do mundo.


Ayahuasca

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Andarilho

Existem dias em que me sinto só.
Não fraco, apenas me sinto só.
Me sinto até um tantinho mais forte do que aqueles que em raras vezes consegui dar meu auxilio.
Esta pequena sensação de força não deixa de ser boa, mas por ser pequena não é o bastante para que impeça de que em certos dias eu me sinta só


Ayahuasca