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domingo, 31 de janeiro de 2010

Gigante



Um dia quis ser um gigante
Do tamanho do meu pai
Um metro e sessenta e cinco de gente
Que hoje nem sei se faz mais

Um homem forte na simplicidade
De quem ama e do mundo so quer paz
Inteligencia escondida na ingenuidade
De quem não manda fazer, vai la e faz

Sempre achou que da caridade
Era pra ele mais facil dar de que aceitar
Um sonhador que dos sonhos não tenho metade
Mas que nunca se deixou pela grandeza levar

Um tipico homem simples do mato
E nunca do mato ele foi
Me ensinou que sem plantar não se colhe
Mesmo sem nunca ter tocado berrante pra boi

Sabe o lado que deve mais ser exigido
Para que na guerra a paz seja instaurada
Fico entre o orgulho de ser eu o mais repreendido
E o rancor de não ver quem mereça, dele levando palmada

Confesso que me sinto pequeno
Por não ter absorvido dele este entendimento
E num beijo de barba branca para barba grisalha
Olhei hoje pra ele sorrindo enquanto chorava por dentro


Ayahuasca

domingo, 8 de novembro de 2009

Obituário narcisista



Se tem coisa que odeio
É essa gente aparecida
E passei depois de morto
A odiar bem mais que em vida

Já vivi tanto desgosto
Por esta estrada tão sofrida
Que até pensei na morte
Como sendo uma saída

Mas falando desse jeito
Posso causar estranheza
Pra que não julguem este sujeito
Deixem então que eu esclareça

Da morte, digo pro senhor
Tenho eu muito receio
Sou um cagão inveterado
De morrer, morro de medo

O fato é que temer não nos livra
De encararmos nossa sina
E a ferina na espreita nos pega
Seja em casa ou numa esquina

E comigo assim se deu
Nem cabe aqui grande discurso
Foi eu ouvir “ele morreu”
Sem perceber já tava eu duro

E o que pensa em recompensa
Receber um defunto recente
Senão um velório com pompa
Cheio de flor, amigo e parente

E lá estava eu já todo ajeitado
Confesso que o cheiro de rosa enjoava
Muitas velas em candelabros
Tinha ali até quem chorava

Mesmo por falsidade não seria absurdo
Aturei isso na vida que tive
Não me proibiriam agora na morte
De ter da falsidade o revide

Descobri que de cara fui quase um santo
Esperando um pouquinho, fui mais bom do que mau
Lá pelas tantas dava pra ouvir pelos cantos
Era só gente em mim metendo o pau

Mal morri já quis estar vivo
E falar alguns segredos de quem tanto criticava
Queria ver quem ali ia ter peito
De falar mal desta alma penada

Ia ter briga de amigos
Fim de sociedade e muito lamento
E garanto que com mais da metade dali
Eu acabava com o casamento

Por fim acabei percebendo em relevância
Que próximo ao meu esquife é que era meu reino
Por ali meus erros não tinham importância
Era lindo, bondoso e ingênuo

Até nas conversas paralelas
Tudo estava nos conformes
Piadas, futebol, doença e política
Até o bla bla bla que o defunto parece que dorme

Mas foi lá pela madrugada
Que acabou o meu reinado
Veio da noitada uma danada
Descasada mesmo tendo engravidado

De longe vi aquilo vindo
E confesso quase cheguei a rir
Nunca vi barriga tão grande
Parecia que ia explodir

Chegou Arfando e pedindo água
Segurava a barriga como se ela fosse correr
Só podia querer atenção a safada
Se sabia que era assim porque diabos então foi meter

Era um papo de dor nas pernas, enjôo
Pressão que vivia a baixar
Todo mundo se preocupando
Ate eu, quase fui lá ajudar

Quando lhe perguntaram pra quando era
E ela disse “Ta pra estes dias”
Fiquei bem quietinho pensando
Quem neste estado sai pra folia?

E quando todos já estavam se acostumando
A todo aquele chororô
Foi que ela saiu gritando
ACUDAM A BORSA ESTORÔ!!!

Começou um corre-corre
Do mais rico ao mais simplório
Parecia até ter ocorrido
Uma treta no velório

Ajeitaram então a pobre
Numa cadeira bem ao meu lado
Foi só abrir as pernas da moça
Que em volta encheu de tarado

Eu até arrisquei uma olhadela
Pra ver se do tudo via um pouco
Pois apesar de ser defunto
Pra estas coisas não to morto

No começo tudo bem
Mas fui ficando assustado
Como que aquela coisa gostosa
Podia ficar naquele estado

Foi me dando tanto enjôo
Que se não to morto me mato
Fiquei pensando se podia ter morrido
Por comer algo estragado

Aquela coisarada nojenta saindo
E ali, na frente de todo mundo
Quase fecho o meu caixão
E dizem ter nojo de defunto

Enfim a criança nasceu
Diziam "tem que bater pra chorar"
Depois que ela pegou firme no choro
Deviam também bater pra parar

Achei uma falta de respeito
Até o terço eles pararam
E pra leva-la pro hospital
Até meu rabecão usaram

Nem na hora do sepultamento
Conseguiam mudar o assunto
Se não fui importante em vida
Pensei que seria como defunto

Mas coloquemos uma pedra nisso
Não é bom ir pra outra vida magoado
Já até me desculpei com São Pedro
Disse que, como eu, este assunto esta enterrado

E confesso hoje pra vocês
Melhor a morte que aboiolar
Porque se estou vivo, mesmo gostando da coisa
Não sei se ia dar mais pra encarar

Ayahuasca

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Diario de bordo de uma nau à deriva


(um dia desses anos de minha vida)

Não sou um bom capitão, por toda minha vida deixei o barco correr na vontade do vento e da correnteza, sempre paguei mais pelo comodismo de largar o timão do que por uma manobra mal escolhida.
A vista era boa, o sol aquecia e o vento refrescava com ajuda dos respingos das gotas de água, porem as margens foram estreitando como que querendo desfazer a definição das paralelas.
O incomodo tornou-se uma constante, com as margens tão próximas o sol já arde, o vento sopra poeira em meus olhos e a água me da calafrios.
Não sou mais feliz nessa embarcação e não me sinto a vontade para agir como mal capitão que sou e lançar-me na água deixando o barco a deriva atropelando a tudo e a todos que se puserem em seu caminho.
O mundo parece cobrar mais quando você decide melhorar e nesse jogo a vida me parece aquele sujeito truculento e inconveniente que vive atazanando e posso ainda afirmar que a vida nunca foi de levar desaforo para casa, nas tuas mudanças de atitudes e comportamentos percebera dela uma cobrança como que te pondo a prova se você tem certeza daquilo a que esta se propondo.
Sinto as vezes que quando você, diferentemente de antes, tenta tomar uma atitude saindo do marasmo a que se encontrava, a cobrança que lhe cabe por esta atitude talvez te pareça mais pesada por ter nela embutida a cobrança por todo o tempo que não fizeste nada a respeito e vendo por esta forma acho justo.
Se o cosmos lança a mim sabatina probatória para a minha inclusão em minha nova vida, eu acato.
Sento-me disfarçando a estranhes da prova.
Não tenho como cuspir em suas caras altas notas e não mais protestarei como antes entregando-lhe a prova em branco, hoje cuspirei minhas respostas que serão dissertativas, não assinalarei X em um espaço vazio, se querem corrigir-me não sera por um gabarito, que ao menos me leiam para isto, talvez assim entendam um pouco minhas respostas erradas.
Talvez uma resposta seja considerada errada por não se entender o que a pergunta realmente deseja como esclarecimento e por muitas vezes também apenas pelo esclarecimento fugir ao parco entendimento de quem se especializou apenas em perguntar.



Ayahuasca

19/10/2009
Caralho de dias chuvosos que cismam vir morar dentro da gente.