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sábado, 21 de junho de 2008

Capitão Eu & Capitã Você




Levanta ancora do mundo antigo uma nau rumo ao desconhecido, cheia de iguarias com a pretensão de que assim pudesse, com algum novo contato, tecer bons e lucrativos negócios.
Uma embarcação grande e bem cuidada porem bem singela em respeito à tripulação, nela o capitão Eu revezava nas obrigações de limpar o convés e assumir o risco da rota escolhida, por suas mãos passavam todas as responsabilidades da embarcação, desde a lida com o esfregão até o trato com o timão.
Dizia ele que este tipo solitário de tripulação podia tornar a viagem muito exaustiva porem em contrapartida não corria o risco de qualquer discordância, má vontade ou motim e adentrou assim ao oitavo mar, gabando-se da experiência adquirida na vivencia de inúmeras tempestades pelos outros sete mares já conhecidos e foi numa calmaria, que sempre procede às tempestades, quando se preparava para o merecido descanso daqueles que tem como cumprida suas obrigações, que pôde ele observar ao longe uma outra embarcação.
O encontro se demonstrou tenso para ambas as partes, temendo pilhagem já se prepararam para a batalha.
Prepararam e alinharam seus canhões já cansados de guerrear numa atitude de intimidação e passaram então a observar e estudar um ao outro.
Ficaram nisso três dias e duas noites até que um, não se sabe ao certo qual, decidiu trocar a bandeira que tremulava no mastro de sua embarcação pelo manto branco da paz, atitude esta que logo foi imitada pelo outro e ambos perceberam que nada mais tinham como opção senão a tentativa de um contato.
Alinharam-se paralelamente com a destreza de quem tem muita experiência em manobras e por uma prancha estendida de uma embarcação a outra, onde a transposição exigia muita coragem e equilíbrio, puderam se conhecer.
Apresentou-se então o capitão Eu a capitã você com uma grande surpresa ao perceber em uma mulher frágil as habilidades e o respeito no trato com o mar, digno apenas dos grandes capitães.
Observou-se de pronto também uma coisa em comum que era a total falta de tripulação, estavam ali frente a frente dois comandantes da nau de suas próprias vidas.
O respeito foi cedendo espaço a admiração de ambos os lados e assim cada um há seu tempo foi mostrando ao outro suas coisas, embarcação, “tesouros”, rotas de viagens já percorridas e puderam constatar que entre as suas coisas os dois guardavam numa arca, a sete chaves enferrujadas pelo tempo e a maresia, seus mais íntimos sonhos e desejos e no ápice da confiança puderam relatar um ao outro a ausência de munição e o estado precário de seus canhões e ao invés de sentirem-se despidos de proteção riram juntos de suas próprias fragilidades e foi exatamente isto que nutriu de confiança esta aliança.
Decidiram então por conta própria seguir em uma rota paralela deliciosamente próxima para que num lapso de falta de orientação pudessem assim ter um no outro seu norte.
Reza a lenda que os dois capitães encontraram, depois de muito navegar, lá pelas bandas do vigésimo oitavo mar, uma pequena ilha deserta e ao pisar juntos em terra firme puderam constatar que ali estavam seus tesouros.
Levaram então suas embarcações para o mar alto e ali as deixaram a deriva voltando à pequena ilha com um bote levando consigo apenas as suas duas arcas.Já na ilha, após lançar ao mar mensagens às pessoas queridas a respeito da felicidade de ambos e de seu paradeiro para uma visita futura de quem assim desejasse puderam os dois ao abris suas arcas libertar todos seus sonhos e desejos e viveram felizes eternamente longe do velho e do novo, mas neste que agora era o seu verdadeiro mundo.


Ayahuasca




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